Novamente, o assunto é a alergia alimentar A incidência de alergia em bebês e crianças é muito comum, a prevenção é o caminho sempre: Ofereça uma alimentação saudável, equilibrada e adequada de acordo com a idade do seu filho.
Gostaria de salientar que o incentivo ao aleitamento materno prolongado, sobretudo em crianças com tendências a desenvolverem alergia alimentar, consiste em arma mais importante na sua prevenção.
Por Dra. Jocelem Mastrodi Salgado
A alergia é a intolerância do organismo para certos agentes físicos, químicos ou biológicos, aos quais ele reage de forma exagerada. O que acontece é que as células do sistema imunológico as vezes confundem uma substância alimentar com invasores perigosos. Nesses casos, o organismo pode desencadear reações alérgicas que vão de simples coceiras até problemas respiratórios graves.
O que é interessante, é que os maiores causadores de alergia, não são alimentos exóticos como certas aves como faisão, perdiz, frutas como tâmaras, damasco, etc... mas sim, aqueles que estão presentes à nossa mesa todos os dias como ovos, leite e derivados, trigo, soja, etc.
Sabe-se hoje, que quanto mais rico em proteína for o alimento, maiores serão as chances de desenvolver o processo alérgico. Isto ocorre porque as vezes algumas moléculas de proteína não são digeridas (quebradas em moléculas menores) e entram inteiras na corrente sangüínea. O resultado disso é que as células do sistema imunológico confundem essas moléculas com corpos estranhos como vírus e bactérias, e acabam atacando-as. Esse confronto, desencadeia as reações alérgicas.
Geralmente, as reações alérgicas são herdadas, podem ser transmitidas de pais para filhos e qualquer pessoa que apresentar uma certa tendência à alergia específica a um determinado alimento, pode ser sensível também a outros tipos de alimentos.
A incidência de alergia alimentar em bebês e crianças é de 0,3-20%; em adultos de 1-3%. Podem ocorrer reações imediatas (um minuto a duas horas após a ingestão do alimento) ou retardadas.
Veja agora como reage o sistema imunológico, quando uma criança alérgica ingere certos alimentos:
Herança genética: A criança ingere determinado alimento repetidas vezes, em conseqüência dos vários contatos com aquele alimento, algumas células de defesa do organismo se sensibilizam.
A criança, já alérgica, ingere novamente o alimento: As células de defesa sensibilizadas reagem às moléculas "estranhas" do alimento e liberam substâncias químicas, destacando-se a histamina. A histamina dilata os vasos sangüíneos e provoca sintomas que aparecem até duas horas depois da ingestão do alimento.
A alergia ao leite de vaca
O leite de vaca é o alérgeno simples mais comuns para bebês. Sugere-se que a alergia ao leite de vaca afete de 3 a 5% dos bebês alimentados com esse leite. Em estudos das reações ao leite de vaca em 3 grupos de bebês, os sintomas ocorreram em 53% dos bebês e se caracterizaram por palidez, vômitos e diarréia de 45 minutos a 20 horas após a ingestão do alimento. Vinte e sete por cento dos bebês apresentaram predominantemente sintomas angiodematosos ( problemas na pele) e de urticária em 5 minutos de ingestão de leite e tiveram testes cutâneos positivos e níveis elevados de anticorpos totais e Imunoglobulina-E leite-específico. Vinte por cento apresentaram sintomas como eczemas, bronquite e diarréia, a maioria dos quais desenvolveu-se mais de 20 horas após o início da ingestão. Estes bebês foram os mais difíceis de identificar clinicamente e possuíam história de doenças crônicas e crescimento deficiente.
PRINCIPAIS SINTOMAS DA ALERGIA ALIMENTAR Os sintomas mais frequentes (70%) da alergia alimentar são gastrointestinais: diarréia, náusea, vômitos, espasmos, distensão abdominal e dor; 24% dos sintomas são reações dérmicas; 4% respiratórias; e 2% envolvem outros sistemas.
Manifestações alérgicas - Características
- Urticárias - Placas avermelhadas e inchadas pelo corpo que provocam intensa coceira.
- Rinite alérgica - Coceiras no nariz, espirros sucessivos, coriza e congestionamento da mucosa nasal, dificultando a respiração.
- Asma Brônquica - Tosse, chiado no peito e dificuldade de respirar provocada pela contração dos brônquios.
- Distúrbio no Aparelho Digestivo - Esses sintomas podem ocorrer (náusea, cólica, vômito, e diarréia) separadamente ou nessa sequência.
- Edemas - Inchaço e vermelhidão nas mucosas, como lábios, pálpebras e orelhas.
- Edema de Glote - Inchaço na cavidade interna (mucosa) da garganta, provocando dificuldade respiratória
- Choque Anafilático - Reações generalizadas e agudas (desenvolvem-se em poucos minutos), começam com coceira nas mãos, gosto de metal na boca, tosse, coceira no corpo, desmaio e possível parada cardiorespiratória
Recomendações para alimentação de bebês
O leite materno é a alimentação preferencial para todos os bebês. Quando a utilização do leite materno não for possível, deve-se utilizar como alternativas a proteína de soja ou uma fórmula como o hidrolisado de proteína do leite de vaca. Quinze a 50% dos bebês alérgicos ao leite de vaca podem desenvolver alergia à soja. Recomenda-se a utilização da fórmula com hidrolisado de proteína ao invés de proteína de soja quando os bebês apresentam sintomas clínicos de alergia, a fim de reduzir a probabilidade de uma sensibilização à proteína de soja.
Não recomenda-se a utilização do leite de cabra como alternativa, devido à reação cruzada com a lactoglobulina presente no leite de vaca. Além disso, o leite de cabra é deficiente em vários nutrientes e provoca alta concentração de solutos nos rins.
Embora incomum, a sensibilidade ao leite materno tem sido relatada. Os alérgenos presentes na dieta materna, tais como o leite de vaca e ovos, podem passar para o leite mamário e causar reações alérgicas no bebê. Os alimentos da dieta materna, tais como bebidas cafeinadas, alguns chás de ervas, repolho, cebola, alho, nabo, rabanete, espinafre e condimentos, podem estar associados a reações alérgicas no bebê. A abstenção dos alimentos-problemas na dieta da mãe deve aliviar os sintomas de seu bebê.
Dieta e prevenção da doença alérgica
Ainda existe controvérsia sobre o papel da alimentação inicial do bebê no desenvolvimento da alergia alimentar; porém, o aleitamento com abstenção materna de alérgenos pode adiar o seu desenvolvimento em bebês de alto risco. A exposição reduzida a alimentos alergênicos, durante a primeira infância, tem sido associada a uma prevalência menor de alergia alimentar no primeiro ano de vida, porém, sem diferença na prevalência de outras condições alérgicas aos 2 anos de idade.
Devido ao fato de que a alimentação inicial ideal para bebês com alto risco de desenvolver alergia seja ainda desconhecida, somente podem ser fornecidas recomendações cientificamente comprovadas. É recomendado o aleitamento exclusivo com suplemento de hidrolisado de proteína (caso necessário) para os primeiros 6 meses e abstenção de alimentos altamente alergênicos, tais como leite, ovos, amendoim, e peixe para os primeiros 2 a 3 anos de idade, em crianças de alto risco para alergia.
Os alergênicos mais comuns estão listados abaixo:
- LEITE - verificar deficiência protéica, riboflavina, vitamina A, vitamina D e cálcio. Seja cuidadoso com a introdução de leite de vaca na infância.
- OVOS - verificar deficiência de ferro. A albumina dos ovos é usada em marshmallows, alimentos congelados e outras misturas para alimentos. A gema é normalmente bem tolerada.
- TRIGO, AVEIA, CEVADA, CENTEIO - o glúten presente nesses alimentos pode causar alergia a crianças portadoras de doença celíaca.
- PEIXE - o peixe estragado apresenta altos teores de histamina, mesmo antes que haja alteração do sabor.
- FRUTOS DO MAR (caranguejo, lagosta, camarão): podem desencadear reações severas.
- TOMATES - uma reação alérgica a tomates está normalmente associada à frequência de uso na dieta.
- FRUTAS CÍTRICAS - pessoas alérgicas à frutas cítricas podem facilmente apresentar carência de vitamina C. Nesse caso é necessário uma fonte suplementar dessa vitamina.
- COCA-COLA, CHOCOLATE: a sensibilidade a estes alérgenos é facilmente identificada.
- LEGUMINOSAS (soja, ervilha, feijões). Verificar no rótulo a presença de lecitina e de outros aditivos da soja, também alergênicos.
- MILHO - outras fontes de milho são o amido de milho (maizena, cereais como corn-flakes), calda de milho (Karo), óleo de milho, iogurte congelado, farinhas.
- CASTANHAS, AMENDOIM - convém evitá-los. As aflatoxinas podem causar reação.
- TEMPEROS - canela é um alérgeno comum.
- ADITIVOS ALIMENTARES E CERTOS MEDICAMENTOS - corantes, conservantes, etc , bem como certas drogas contendo aspirina, salicilatos, penicilina. Sulfitos, aditivos muito comuns utilizados em picles, cervejas, vinhos, coca-cola, frutas e vegetais secos, cerejas ao marasquino, batatas secas ou congeladas também podem provocar reações alérgicas.
- FERMENTO NATURAL - Adotar uma dieta pobre em leite e laticínios, cogumelos, queijos, cremes fermentados, bacon, geléia, temperos e salsichas (e linguiças).
Recomendações dietéticas e nutricionais
- Excluir ou evitar o alérgeno em questão. Se o agente causador da alergia não for conhecido, aconselha-se usar uma dieta de eliminação para identificá-lo.
- Ficar atento ao início da reação, que pode ser imediato ou retardado. Se a reação for retardada, ela pode levar até cinco dias para se manifestar. Uma resposta imediata é mais frequente com alimentos crus. A história do paciente pode incluir diarréia, urticária, eczema, rinite e asma. O cozimento pode reduzir o potencial alergênico de alguns alimentos, mas não é nenhuma garantia.
- Para a dieta de eliminação use uma base hipoalaergênica ao qual os outros alimentos possam ser associados como "teste". Alimentos que raramente causam uma reação alérgica são: maçãs, alcachofras, cenouras, gelatina, carneiro, alface, pêssegos, pêras e arroz.
- Leia atentamente o rótulo dos alimentos e verifique todo o cardápio servido aos pacientes. Acompanhe a preparação dos alimentos para excluir a possibilidade de contato com o alérgeno.
- Garanta os nutrientes necessários à idade do paciente.
- Os alérgenos mais comuns na infância são: leite, ovos, trigo, frutas cítricas, chocolate e peixe. Para crianças, o leite de vaca, ovos, leguminosas, trigo, castanhas e peixe são frequentemente um problema.
- Para os bebês, o ideal é somente o leite materno, este é geralmente não alergênico. Algumas vezes a mãe também tem que excluir o leite de vaca, ovos, peixe, amendoins e nozes de sua dieta.