domingo, 18 de abril de 2010

A escola que não alimenta direito

Mães querem que a qualidade do cardápio seja parte do programa educacional
 
Por Francine Lima
No meu tempo de primário (hoje ensino fundamental), eu tinha uma lancheira cor-de-rosa. Se bem me lembro, era da Moranguinho, aquela personagem cabeçuda que na versão boneca tinha cheiro de fruta. Minha lancheira de plástico levava com freqüência uma garrafinha térmica com chá mate frio, feito em casa, e opções variadas de lanche caseiro. Parte dos meus colegas preferia comprar o lanche na cantina da escola. Havia entre eles fãs de uma bebida açucarada a base de soja com sabores variados, que eu levei anos para experimentar. Eu me lembro que a fila formada na frente do balcão era, na maioria, de crianças famintas pedindo salgados de presunto e queijo, esfiha de carne, misto quente, cheesebúrguer e refrigerantes. Pra mim era um pouco esquisito comer esse tipo de coisa todo dia, já que eu estava acostumada às comidinhas trazidas de casa. É verdade que quem levava dinheiro e tinha liberdade pra comprar o que quisesse carregava um certo status de independência e poder, em comparação com as crianças que levavam lancheira. Mas, na ausência de opções mais saudáveis na lanchonete, eu preferia pagar mico com a Moranguinho.

Os tempos mudaram, a obesidade cresceu e a preocupação com a alimentação saudável desde o primeiro dia de vida das pessoas ganhou dimensões maiores. O cardápio tradicional das cantinas escolares, já faz alguns anos, tem sido alvo de críticas e até proibições, ao mesmo tempo em que os programas educacionais têm incorporado atividades com a finalidade de ensinar às crianças o que vale a pena comer. Mas ainda não deu para relaxar. Uma amiga me contou que a escola do filho dela proíbe os pais de colocarem suco natural (feito em casa) na lancheira das crianças. Principalmente suco de laranja. O motivo alegado pela escola é que, com muita frequência, acontece de a fruta apodrecer antes da hora do recreio e a criança ter uma diarreia por tomar suco estragado. Na intenção de evitar surtos diários de diarréia, a escola preferiu proibir os sucos caseiros e sugerir que as mães mandem suco de caixinha mesmo. Faz sentido. Mas minha amiga estava se descabelando atrás de um suco industrializado que valesse a pena. Ela me disse que só encontrava porcarias no supermermercado, e que comida saudável parecia cada vez mais cara.
Entre a diarreia e os industrializados-porcaria, o que fazer?

Fui investigar e descobri que, na intenção de resolver parte do problema de falta de qualidade no lanche das crianças, há escolas criando problemas novos. Há colégios que impõem o que os alunos podem e o que não podem levar na lancheira. E as mães têm de obedecer, mesmo quando não concordam. É o caso da minha amiga, que acha um absurdo ser obrigada a dar suco de caixinha pro filho dela. Outras instituições estão optando por proibir toda e qualquer lancheira e oferecer seu próprio lanche. Normalmente, o cardápio é publicado previamente no site da escola, mas isso não quer dizer que os pais podem alterá-lo.

Pizza, cachorro-quente, biscoito doce, bolo, doce de leite, goiabada. De vez em quando, tudo bem. Toda criança merece um agrado. Mas tudo isso na mesma semana, como costume, pode ser a ruína do projeto de uma mãe que pretende que seu filho aprenda desde cedo a se alimentar corretamente. É açúcar demais. É incentivo demais ao paladar doce, ao tipo de prazer que deveria ser restrito a ocasiões especiais. Como se defender dos cardápios ruins impostos pelas escolas e como transformá-las em aliadas da educação alimentar?

Conversei com a nutricionista funcional Patricia Davidson Haiat, que atende crianças em seu consultório no Rio de Janeiro e promove cursos sobre como melhorar a alimentação infantil. Boa parte de seus pacientes são crianças com algum tipo de alergia alimentar, que não podem comer tudo que está no cardápio escolar. Nesses casos, ela consegue intervir na alimentação do paciente, comunicando-se por escrito diretamente com a coordenação do colégio. Mas, quando a preocupação da mãe são os teores de açúcares e gorduras nos lanchinhos, e não alergias, não adianta simplesmente pedir que a escola abra uma exceção. Segundo Patricia, que também é mãe, o cuidado da instituição de ensino com a alimentação dos alunos também depende da cobrança dos pais. “A primeira providência a tomar é conversar com outros pais de alunos e com a escola. Pergunte se a escola tem uma nutricionista e, se tiver, converse sobre as mudanças que parecem necessárias”, diz Patricia.

Num fórum sobre o assunto que encontrei na internet, uma mãe dizia que o cardápio foi um dos motivos pelos quais decidiu mudar a escola do filho. Se essa atitude parece um tanto radical, vale pensar que, se a escola está oferecendo alimentação, esta deve estar de acordo com os valores que a escola está procurando transmitir aos seus alunos. Melhor que trocar de escola seria, então, ressalta Patricia, incluir os programas de alimentação entre os critérios que os pais consideram na hora de escolher a escolha dos filhos.

Já para o caso dos pais que têm liberdade para rechear a lancheira da criança com o que quiserem, Patrícia avisa que existem lanchinhos bacanas, inclusive industrializados, que agradam às crianças e alimentam bem. Pode ser difícil e um pouco demorado (porque exige ler os rótulos com calma), mas com uma boa dose de atenção é possível encontrar sucos de caixinha sem adição de açúcar, sem edulcorantes artificiais e sem conservantes; bebidas a base de soja com pouco açúcar; alimentos com prazo de validade curto (portanto, sem excesso de conservantes); barras de cereais sem chocolate e com até três gramas de fibra (menos de um grama não vale a pena); biscoitos integrais. Ela também sugere preparar em casa quitutes gostosos e mais saudáveis do que os tradicionais, como bolos com fibras (com frutas secas e sementes trituradas de linhaça, por exemplo) e sanduíches com pastas criativas. Frutas inteiras e que não precisem de refrigeração, como maçã e mexerica, também continuam sendo bem-vindas na lancheira. Patricia diz que variedade é importante, porque ninguém gosta de comer a mesma coisa todo dia. E que dá pra variar bastante com comidinhas saudáveis, sem precisar apelar para os excessos.

Outra dica é investir numa lancheira térmica, que conserve melhor os alimentos e evite que a criança coma comida estragada. Se ela quiser uma lancheira com a cara de algum personagem querido contendo guloseimas engordativas que venham com algum brinde, é sua vez de argumentar dentro de casa em favor do que vale mais a pena. Afinal, mesmo com o crescente papel da escola, a educação ainda começa em casa.
 
 

quarta-feira, 7 de abril de 2010

O plástico das mamadeiras é seguro?

Notícias sobre os riscos do bisfenol A, uma substância química que dá maleabilidade a alguns produtos de plástico, como a mamadeira, não param de ser divulgadas ao redor do mundo. Vários estudos mostram que ele poderia provocar câncer, influenciar na má formação dos órgãos masculinos do feto e ser um dos responsáveis pela puberdade precoce em meninas (o componente imitaria o hormônio feminino estrogênio), e até ser uma das causas da hiperatividade. As pesquisas indicam que o risco seria maior em crianças, porque elas são mais frágeis a esses malefícios. Por isso o bisfenol A foi banido no Canadá, na França, Dinamarca e na Costa Rica.

Nos Estados Unidos o material é proibido apenas nos estados de Chicago e Minnesota, mas a tendência e que o veto se estenda por outros estados. Na última semana a Agência de Proteção Ambiental americana classificou o bisfenol A como preocupante. Isso esquentou a discussão no país, mas ainda não foi suficiente para modificar a legislação e a postura da FDA (agência norte-americana que regula produtos alimentícios e farmacêuticos). Assim como brasileira Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a FDA diz que a quantidade de bisfenol A presente em plásticos (0,6 mg/kg) é segura.

Segundo eles, o componente é completamente eliminado pela urina, sem alcançar a corrente sanguínea. Do outro lado estão os pesquisadores que estudam o impacto dessas substâncias na vida das pessoas. Para eles, não existe nível seguro. Até a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), que é contra o uso de mamadeiras, faz ressalvas. “Os pais devem evitar os produtos com essa substância”, diz Paulo Nader, presidente do Departamento de Neonatologia da SBP.

No Brasil, a discussão só acontece entre os cientistas e passa despercebida pela maioria da população. Mas nos Estados Unidos a procura dos consumidores por mamadeiras com plásticos feitos sem bisfenol A é grande. Por isso lojas infantis adotaram a venda de produtos livres da substância como estratégia de marketing. Esse é o caso da Baby “R” Us que anunciou que só comercializa produtos BPA-free. Mas nem todas as lojas seguem essa tendência, as britânicas Mothercare e Boots, por exemplo, continuam vendendo produtos com bisfenol A em suas lojas presentes em vários países.

Falta informação

A engenheira química Sônia Corina Hess, professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, estuda os efeitos nocivos dessa substância há dez anos. No fim de 2008, quando o governo canadense mostrou-se inclinado a proibir a venda de produtos com bisfenol A, ela preparou um parecer técnico reunindo todas as pesquisas que mostravam os riscos à nossa saúde. O documento foi entregue ao Ministério Público, mas não houve discussão.

CRESCER entrou em contato com diversas universidades brasileiras para repercutir as informações. Algumas assessorias de imprensa disseram que não tinham profissionais para falar sobre o tema, outras diziam que os médicos não se sentiam seguros. O médico Paulo Saldiva, chefe do Laboratório de Poluição da USP-SP e um dos maiores especialistas em substâncias nocivas à nossa saúde, tem uma explicação. “Falta no Brasil uma política ambiental que cuide das pessoas. Ela já foi criada no papel, mas não é funcional. Por isso, poucos falam sobre o assunto”, diz.

Não é pelo contato direto com a nossa pele que a substância entra no organismo. Ela é liberada quando o alimento está armazenado em um recipiente feito com bisfenol A. Quando o plástico é aquecido – como no micro-ondas – a liberação é ainda maior. O último estudo publicado, da Faculdade de Saúde Pública de Harvard (EUA), analisou por uma semana o nível de bisfenol A na urina de 77 participantes que tomaram líquidos em garrafas plásticas. O aumento da concentração dessa substância chegou a 69%, considerado um nível alto.

O que você deve fazer

Não pense no quanto você já esquentou a mamadeira, por exemplo, foque no futuro. Substitua o plástico por opções sem bisfenol A (a informação vem na embalagem) ou pelo vidro. Sim, são mais caros, mas valem a pena. Se você não conseguir encontrá-los, já que no Brasil a oferta ainda é modesta, compre plásticos de números 3 ou 5 (a informação vem no fundo da embalagem), que tem menos bisfenol A. Esterilize do jeito você fazia. Depois que a mamadeira esfriar, lave-a em água corrente e seque. Esquente o alimento em outro recipiente e só depois coloque no plástico pois, assim, a transferência de bisfenol A é menor. “Quanto melhor a qualidade do plástico, menor a transferência. Mas mesmo assim não estamos imunes”, diz Saldiva.


Tire suas dúvidas sobre o bisfenol A
Já encontro mamadeiras sem bisfenol A?
Sim, já existem mamadeiras sem bisfenol A, mas dificilmente são encontradas. Grandes empresas do ramo prometem que dentro de 6 meses os pais vão achá-las com mais facilidade. Outra opção é a de vidro.

Quando aquecido, o plástico libera uma quantidade maior de bisfenol A. Devo esterilizar as mamadeiras menos vezes ao dia?
Não é necessário. Basta lavar a mamadeira em água corrente depois de fazer a esterilização.

Quanto tempo o alimento quente pode ficar dentro desse plástico?
No caso dos alimentos, é melhor colocá-los em recipientes de vidro ou então servi-los em pratos de porcelana ou os que não tenham bisfenol A. Se for líquido, não deixe o volume lá dentro por muito tempo - como na hora de preparar a mamadeira da noite com antecedência. Faça a mamadeira e sirva na hora.

E nos berçários: como garantir que eles não aqueçam o líquido dentro da mamadeira?
Infelizmente, não dá mesmo para contar com esse tipo de garantia. Se o bebê não rejeitar o alimento frio, é melhor pedir para servi-lo sem aquecer. Quanto menos calor, e quanto menos tempo o alimento permanecer na mamadeira, melhor.

O plástico do bico da chupeta também é prejudicial?
Não. Esse tipo de plástico é mais duro - e o que daria flexibilidade a ele é o bisfenol A.


Fontes: Anvisa; Fernando Goulart, pesquisador tecnologista em qualidade do Inmetro, no Rio de Janeiro (RJ); Silvana Rubano B. Turci, responsável pela área de vigilância do câncer relacionado ao trabalho e ao ambiente do Inca. 

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Páscoa para todos



Páscoa chegando e as prateleiras dos supermercados lotadas de ovos, chocolates e bombons super variados. Para as mamães preocupadas, como eu, aqui vai uma dica de ovos de Páscoa sem leite e mais ligths, ideais para crianças com alergia a leite de vaca ou apenas para não prejudicar a saúde dos pequenos: